
Nossos bebês tendem a gostar do conforto do ventre. Os três primeiros nasceram entre 40 e 42 semanas. Com os três fomos acompanhados por parteiras magníficas e eles acabaram nascendo todos em casa. Mas, pelo desgaste que eu tenho ao atravessar as cidades gestando, para realizar o pré-natal, desta vez optamos por não ter acompanhamento. Lógico que a experiência já contava muito pra tomar esta decisão, de se ter o bebê em casa sem o auxílio carinhoso dessas profissionais.
Estávamos confiantes de que, se a placenta estivesse bem posicionada e o bebê não estivesse atravessado, eu e Leo conseguiríamos trazer este novo Ser para o mundo. Então, com 36 semanas, fiz meu primeiro e único ultrassom, para me aliviar de qualquer dúvida e poder ter mais um parto domiciliar seguro.
Dali em diante, me senti pronta para ter o bebê e com 38 semanas comecei a ter algumas contrações convincentes que sumiam quando deitava. Isso continuou até a data prevista do parto, quando de repente senti-me mais enérgica e veio uma sensação estranha de que o bebê não iria nascer tão cedo. Nessa altura, já fazia um mês que Leo estava ficando bem próximo de casa, para estar devidamente presente durante todo o trabalho de parto. E quando os curiosos perguntavam quando iria nascer o bebê, respodíamos: - Por estes dias!. Mas como os dias viraram semanas e eu cheguei no limite de 42, comecei a ficar bastante ansiosa. Mantive uma conversa diária com as amigas que estariam presentes no parto, tentando me manter calma e confiante. Sempre no propósito de deixar o bebê nascer a seu tempo. Que, depois de 42 semanas, sem dúvida a resposta passou a ser: A qualquer hora!
Na terça-feira, Silvana trouxe seu estetoscópio, para que Leo pudesse monitorar o batimento cardíaco e a pulsação da placenta. Tania, Livia, Filipe e Nina (filha do casal Li e Fi), ficaram de plantão. A casa se encheu dos cheiros, sabores e visões de uma indução natural. Chá de canela, cravo e gengibre fervendo no fogão, comida bem temperada com curry e uma mulher com uma melancia enorme na barriga, rebolando seu quadril, na tentativa de chamar a nossa criança pra Terra. Eu já havia estrapolado qualquer prazo para fazer uma visita ao hospital. Me senti extremanente agradecida de ter amig@s em volta para aliviar a tensão. Massagearam meus pés, ajudaram na cozinha, entreteram os meninos e apoiaram minha decisão para continuar esperando esta nova Vida chegar ao seu próprio tempo.
Todavia, na noite de quarta-feira, eu estava exausta emocionalmente e fisicamente. Deitei para Leo escutar o batimento denovo e depois pedi para ele impor suas mãos sobre minha barriga. Ele tinha feito isso ao longo da última semana e sem exceção, o bebê respondia a ele com bastante movimentação. E mais uma vez perguntei: - E aí, o que você acha?. E ele respondeu: - Acho que tem muita Vida aí dentro, mas não acho que dizendo isso esteja sendo o suficiente pra te dar a confiança necessária a ter o bebê. De fato, o medo estava me tirando a confiança e eu já não mais conseguia me tranquilizar no presente.
Então, decidimos fazer uma visita a Santa Casa naquela mesma noite, depois de por a turma toda pra dormir. Sabendo da porcentagem absurda de cesarianas aqui no Brasil, estava com muito medo de renunciar o controle do meu parto para o sistema público de saúde.
Fomos atendidos rapidamente. O médico não estava muito contente em atender alguém sem pré-natal e também nem um pouco animado em ouvir sobre parto domiciliar. Porém, ele examinou uma estranha mulher com 42 semanas e 5 dias de gestação e não pode contradizer o diagnóstico, ao constatar que tanto eu quanto o bebê estávamos bem e eu tinha 4cm de dilatação. Mas alertou que isso podia não durar por muit tempo e começou a preencher o processo de internação, para induzir o parto pela manhã. Prometi ao médico que retornaria no próximo dia, pois queria voltar pra casa e preparar os meninos para esta situação inusitada de ficar sem minha presença por alguns dias.
Mas aquelas palavras mágicas de um médico (e a visita à maternidade), foram suficientes para começar fluir dentro de mim o "nasce neném" e tive seis contrações no caminho de volta pra casa! Eram 2h da madrugada e eu já estava acordada desde as 6h da manhã. Falei para o Leo que eu precisava descansar pelo menos um pouco, porquê pelo visto, iríamos ter este bebê nascendo em casa mesmo. Durante 5 horas, dormi consciente das contrações. Em vários momentos até cheguei a marcar a duração e os intervalos. É comum ouvir dizer que uma vez entrando em trabalho de parto, a mulher não consegue dormir mais. Portanto, esgotamento e alívio emocional, são uma combinação incrível. Eu estava tão feliz e agradecida por estar sentindo novamente a dor forte do trabalho de parto, que dormi em paz enquanto meu cervix dilatava.
Quando levantei as 7h para dar de comer ao meninos, me senti totalmente aberta e falei pro Leo que iríamos ter um bebê logo, tipo na próxima hora. Deste momento em diante, lembro somente de algumas imagens do que aconteceu. Leo preparou o espaço com toalhas, lençóis e todo o resto do kit parto. Água quente pra bolsa d'água, as crianças sendo bem cuidadas e eu me sentindo totalmente segura nas mãos de um grupo tão excelente e cuidadoso. Meus menininhos assistiram ansiosamente a chegada do tão esperado bebê. Leo, meu esposo calmo e corajoso, focou no parto. A cada dor, lembrei de sorrir e agradecer, pra manter meus olhos abertos e rosto relaxado. Pelo fato de não ter a figura de uma parteira presente, eu consegui me manter consciente do que estava acontecendo, ao invés de escapar para a "partolândia", como fizera nos partos anteriores.
Logo antes do bebê nascer, eu senti com minha mão a bolsa d'água descendo junto com sua cabeça. A bolsa rompeu e eu não consegui mais resistir a vontade de empurrar. Tentei ir devagar, mas depois de tanto tempo na barriga, o bebê estava com pressa pra nascer! Somente com uma contração sua cabeça passou pelo canal e saiu pela metade. Coloquei toda minha força para segurar ele alí, para evitar de rasgar muito o períneo. Mas com a próxima contração, o resto da cabeça e o corpo todo saíram espirrando pra fora as 8h25 do dia 28 de janeiro. Instantaneamente, toda aquela demora, toda ansiedade, dissiparam-se no maior milagre. Quão rápido uma situação difícil pode se transformar em algo lindo.
Mamãe Nicole
"E quando você nasceu, eu te segurei molhado e se abrindo, como uma borboleta recém-nascida da crisálida do meu corpo. E respirei contigo, enquanto você fazia sua primeira respiração. Então foi sua promessa de prosseguir como tod@s nós, nesta imensa jornada, por amor, por chuva." Joy Harjo
Estou de 30 semanas, esperando ansiosa pelo meu 2º parto domiciliar...
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